quarta-feira, 16 de junho de 2010

Trabalho infantil começa a ser cada vez mais frequente em São Tomé e Príncipe

A exploração de mão de obra infantil começa a ser visível em São Tomé. Muitas crianças são enviadas para oficinas de carpintaria, marcenaria, comércio ambulante, para partir pedras e outras ainda dedicam-se artesanato para obterem o sustento.

As razões são várias, e a Lusa pôde ouvir hoje de cada criança uma história diferente, quando se assinala o Dia da Criança Africana.

“Reprovei duas vezes na 6.ª classe e a minha mãe decidiu colocar-me nessa oficina”, disse Augusto Maia, justificando a sucessiva reprovação nos exames escolares com a falta de alimentação.

“Por vezes passamos o dia todo sem comida, e de manhã só como pão para ir à escola”, diz Augusto Maia, que recebe uma “gratificação” mensal de 200 000 dobras (cerca de oito euros).

Juntamente com esta criança, estão na rua outras três, com idades que variam entre os 10 e 14 anos.

“A minha mãe viajou para Portugal e o meu pai e a minha madrasta puseram-me na oficina (carpintaria)”, diz José João, de 12 anos.

A história mais dramática é a de João Manuel, hoje já com 16 anos, residente em Angolares, (sul de São Tomé). Abandonou a escola aos nove anos porque precisava ajudar a mãe e dois irmãos quando o pai morreu.

“A minha mãe não tinha comida para nós. Muitas vezes dormíamos com fome e não conseguia estudar. Comecei a vender plástico na rua para um senhor que me aldrabava quando fazíamos as contas”, explica.

“Deixei de vender plásticos e comecei a vender peças de artesanato. Fiz amizade com muitos estrangeiros brancos a quem eu pedia dinheiro quando não vendia nada. Eles davam-me e diziam-me para deixar essa vida e estudar. Mas não tinha como”, acrescenta João Manuel.

“Os pais trazem as crianças e nós assumimos. Eu não aposto em jovens porque eles já entram com interesse em querer ganhar dinheiro. Prefiro apostar nos mais novos porque enquanto estão a aprender não têm o vício do dinheiro”, diz à Lusa o proprietário de uma marcenaria onde trabalham três menores.

Segundo sociólogos são-tomenses, a degradação da família e a falta de uma política do Governo para com as pessoas que vivem na extrema pobreza está a fazer crescer o numero de crianças desamparadas e que se enveredam pelo trabalho infantil.

Entretanto, contrastando com a pobreza que abrange mais de 53 por cento da população são-tomense, em que as crianças e mulheres são as principais vitimas, há também crianças que vivem uma vida abastada.

È o exemplo de uma criança de 10 anos que estuda na Escola Portuguesa, onde paga uma propina de 50 euros mensais. Trata-se do filho de um membro do Governo, que pediu para não ser identificado.

O ordenado mínimo em são Tomé e Príncipe é de 35 euros.

“Eu venho para a escola e regresso para casa de carro com a minha mãe ou, por vezes, com o condutor do meu pai”, disse a criança, acrescentando que além de tomar as refeições em casa, leva “lanche para a escola todos os dias”.

O Dia da Criança Africana foi instituído em 1991 pela então Organização da Unidade Africana (OUA) – substituída pela União Africana (UA) em 2002 -, em homenagem ao massacre de estudantes no Soweto (África do Sul) durante uma manifestação em 1976 de protesto contra a introdução da língua “afrikaans” no ensino.

2 comentários:

  1. Você conhece São Tomé e Príncipe? Então sua história nos interessa. Há muitas pessoas a procura de informações sobre este país, ficaremos muito felizes em ouvir sua história: http://principesaotome.blogspot.com/

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