terça-feira, 31 de agosto de 2010

S. Tomé e Príncipe: mais uma vítima do petróleo?

As reservas de petróleo de São Tomé e Príncipe estão a atrair a cobiça de muitas potências regionais, governos ocidentais e multinacionais do sector, ao ponto de deixar preocupadas associações humanitárias como a Human Rights Watch. Num relatório de 13 páginas intitulado "Um Futuro Incerto", aquela organização alerta para o facto de o arquipélago não estar preparado para gerir esta riqueza

Apesar dos esforços internos e internacionais para melhorar a transparência financeira e a prestação de contas, aquele país africano de língua oficial portuguesa contínua mal equipado para gerir a sua parcela dos lucros do petróleo, afirma a Human Rights Watch. No final do ano, o Governo de São Tomé e Príncipe deverá anunciar as empresas escolhidas para explorar as suas reservas petrolíferas, avaliadas em 10 mil milhões de barris, mas as autoridades sãotomenses foram incapazes ou não fizeram um verdadeiro esforço para cumprir os requisitos da sua filiação, em 2008, na Extractive Industries Transparency Initiative (EITI), publicando na íntegra os pagamentos feitos pelas companhias interessadas na exploração petrolífera das suas águas.
Para a Human Rights Watch, o arquipélago de São Tomé e Príncipe poderia constituir um paradigma dos esforços internacionais para evitar que os países sejam vítimas dos seus recursos, como já aconteceu a tantos produtores de petróleo (Nigéria, Angola, Gabão e Guiné Equatorial). As futuras receitas do petróleo têm potencial para transformar um país com 166 mil habitantes, bastante pobre e que depende, essencialmente, da exportação de cacau.
Contudo, nem tudo corre mal em São Tomé e Príncipe. A WACT (We Are Changing Together), uma organização não governamental para o desenvolvimento (ONGD) apolítica e sem fins lucrativos, está a desenvolver desde Setembro de 2009, um programa de melhoria das condições de vida das comunidades mais carenciadas, em parceria com a companhia de aviação portuguesa White. Neste contexto, foram desenvolvidas diversas actividades nas comunidades de Guadalupe e Canavial, tais como a Feira das Profissões e a Tarde Saudável, orientadas por voluntários da WACT.
Reconhecendo o valor económico dos recursos naturais de São Tomé e Príncipe, a organização está a desenvolver o Projecto WACT Rotas, valorizando o potencial turístico das principais roças do país. Posteriormente, o projecto pretende apostar na capacitação de microempresas familiares que se dediquem ao cultivo de produtos agrícolas típicos, de artesanato e restauração, integradas nas rotas turísticas organizadas pela WACT.
Em 2010 e 2011, a WACT está a implementar duas rotas no distrito de Lobata, destacando a Roça Agostinho Neto como âncora dos roteiros: a Rota Azul inclui um mergulho nas águas transparentes da Lagoa Azul, enquanto a Rota do Peixe, permite ao turista conhecer os segredos da pesca artesanal no arquipélago. A WACT pretende estimular o empreendedorismo dos sãotomenses através de consultoria permanente e apoio financeiro, com base num fundo de microcrédito.

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